Mudanças Climáticas: O Protagonismo Brasileiro no Projeto Plataforma Biofuturo

Você conhece o projeto “Plataforma Biofuturo”? Uma iniciativa extremamente importante quando tratamos do combate às mudanças climáticas.

Você conhece o projeto “Plataforma Biofuturo”? Uma iniciativa extremamente importante quando tratamos do combate às mudanças climáticas. Falaremos mais sobre o assunto ao longo deste texto, mas antes, precisamos abordar um pouco do cenário ambiental no qual nos encontramos.

Os efeitos da ação do homem na questão das mudanças climáticas e da ameaça ao planeta é consenso por mais de 97% dos cientistas e evidenciado por tempestades e secas extremas em todas as partes do mundo. Países, ONGs e empresas se mobilizam para reagir e evitar uma deterioração irreversível do equilíbrio térmico. Por isso, no Acordo de Paris, na COP21, estabeleceu-se uma meta (1,5C) para limitar o aumento da temperatura global em relação aos níveis da era pré-industrial. Foi um grande avanço em prol do planeta.

Outro ponto importante: países signatários do Pacto de Clima da COP21 e agências internacionais de energia e clima apontam o etanol celulósico como fundamental para descarbonização dos transportes de forma a atingir as metas globais das mudanças climáticas. A partir do momento em que empresas pioneiras como GranBio, Poet e Raizen concluem suas primeiras plantas em escala industrial e o risco tecnológico deixa de ser a principal barreira, novas plantas, com diferentes fontes de biomassa, serão anunciadas em todas as partes do mundo.

Mas como o Brasil se apresenta nesse cenário? O país é líder no uso de biocombustíveis com 90% da frota “flex”, além de estar à frente da produção pioneira dos chamados biocombustíveis de segunda geração (2G) a partir do uso de biomassa, abrindo assim oportunidade para bioquímicos e outros derivados de resíduos. Foi com base nesses dados que, na COP22, em Marrakesh, o Brasil propôs a Plataforma Biofuturo. A iniciativa que visa o combate às mudanças climáticas e tem como objetivos promover a cooperação entre 20 países, academia, empresas, ONGs e agências internacionais interessadas em acelerar o desenvolvimento e a demanda dos biocombustíveis avançados de baixo carbono na matriz energética global.

No contexto do debate global sobre mobilidade sustentável, o etanol tem impacto significativo. Os biocombustíveis avançados reduzem o efeito estufa (GEE) porque compensam o CO2 atmosférico através da fotossíntese e evitam a deterioração da biomassa em gases nocivos (no caso do etanol celulósico). Como o setor de transportes emite cerca de 25% do CO2 produzido pelo homem, agências internacionais como IEA, IRENA e UNESCO recomendam que países acelerem mandatos que obriguem a substituição do uso de fontes de energias não-renováveis por fontes de energia alternativas.

Em 24 de outubro, o Brasil promoveu o primeiro simpósio da Plataforma para o Biofuturo, quando agências internacionais de clima e energia, países e empresas compartilharam seus avanços e propostas de cooperação. O governo brasileiro confirmou o compromisso audacioso de reduzir em 43% as emissões de gases do efeito estufa até 2030 e renovou a proposta de coordenar a Plataforma.

Durante o simpósio, a IRENA – Agência Internacional de Energia Renovável reafirmou a necessidade de soluções em escala com biocombustíveis renováveis avançados, em especial a partir de biomassa. A agência prevê que até 2050 haverá um aumento de 10 vezes no uso de biocombustíveis líquidos e gasosos, apesar da complexidade política graças à grande variedade de prioridades dos muitos “stakeholders”. Caberá aos governos promover maior comprometimento dos consumidores e população em geral, bem como a cooperação entre países.

Já a IEA (Agência Internacional de Energia) recomendou que o mais amplo portfólio de tecnologias para renováveis deve ser incentivado pelos governos e os mandatos para economia de baixo carbono acelerados, de maneira a atingir os compromissos de descarbonização da COP21. A Agência prevê que o consumo por biocombustíveis triplicará até 2030 e as exigências de mandatos europeus por etanol celulósico projetam demanda inatingível hoje, mesmo que todas as fábricas necessárias já estivessem em construção.

Até hoje, o etanol tem sido um duopólio: dos Estados Unidos, a partir do milho, e do Brasil, a partir da cana-de-açúcar. Nenhum país europeu ou asiático aceitou a dependência energética do etanol. Debates rasos, como a competição entre comida e combustível, do lobby do petróleo e fazendeiros impediram o maior compromisso com biocombustíveis nas suas matrizes de transportes. O etanol celulósico rompe esse entrave porque permite a universalização da matéria-prima: biomassa, de forma agnóstica – madeira, restos de florestas e plantações – que todos os países possuem, além de novas externalidades ou benefícios sociais, ambientais e econômicos para o desenvolvimento econômico sustentável.

As agendas políticas e econômicas dos países são estabelecidas por governos que respondem às prioridades nacionais e, apenas por conveniência ou ameaça, cooperam com outros países. Trata-se da síndrome NIMBY – “not in my backyard” (em português: não no meu jardim). Ainda que todos se beneficiem de uma ação global de impacto, cada país vai defender primeiro o seu quintal e o interesse próximo dos seus cidadãos. Os Estados Unidos e a Rússia, por exemplo, estão fora do acordo que visa minimizar o impacto das mudanças climáticas. A agenda do clima não pode seguir a mesma lógica do pragmatismo econômico.

Os mandatos e incentivos públicos para substituição de combustíveis fósseis pelo etanol nas matrizes de transportes ainda são regionais, mas iniciativas como a Plataforma BioFuturo confirmam o compromisso mundial com a bioeconomia e oferecerão soluções diplomáticas para o nivelamento de políticas públicas, critérios de mercado para precificação do carbono, e alianças internacionais de cadeias de suprimento e consumos de produtos renováveis entre indústrias.

O mundo tem um bom motivo para se unir pelo bem comum de defender o planeta da poluição do homem e criar novos mercados e rupturas tecnológicas ambientalmente sustentáveis. E o Brasil pode liderar essa agenda global com legitimidade única. Uma iniciativa exemplar e replicável já acontece no pacto aéreo global para conversão do querosene de aviação fóssil para combustível renovável.

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